quinta-feira, 22 de julho de 2010

Rios, mares, lagos e saliva


Passamos nossos primeiros meses de vida na água.
Envoltos na bolsa amniótica, estamos protegidos pelo líquido vital, que abundante nos permitiu crescer em temperatura agradável e constante, livres de abalos, de tudo o que nos pudesse ser desconfortável.
Rompe-se a bolsa, rompe-se um primeiro laço, abrimo-nos para o ar, sofrida respiração que nos faz chorar, no susto, sabemos agora sobreviver a seco.
Seco toque.
Em meio a ruídos claros, descobrimos um mundo novo de sensações, que por toda a vida serão fundamentais para fazer de nós quem somos.
A água agora nos mata a sede. Esta que representa setenta por cento de nosso corpo, similar ao nosso planeta, brota da terra, vem do céu, enche copos, escorre de nossos corpos, em suor e choro.
Choram os morros, lavam de lama casas e vilas, água rebelde não tem por onde escapar.
Choram mães, mulheres e homens por águas que rins não conseguem filtrar.
Água retida que engorda a moça.
Água brinquedo de menino em forma de poça.
Água benta, cura dos males.
Água salina, salobra, salgada dos mares.
Rios, lagos, riachos e saliva.
Água da boca.
A mesma que ajuda a digerir, fluidifica o que se come, enlaça o beijo, junta os amantes, separa em uma cusparada os inimigos.
Água do batismo, purificação do espírito.
Água de cheiro.
Fria, gelo. Quente, vapor. Água, simplesmente água.
Água que banha, lava o corpo, remove o cansaço, liberta.
Águas quentes, Caldas Novas, Goiás, que saudade deste lugar.
Encontrei em suas águas mais que o repouso. Encontrei a volta ao lugar de origem, ao calor e proteção da bolsa original.
Cuidada, me deixei lavar e levar, regada a amor, retorno refeita.
Respiro o ar, que agora já não me faz sofrer, sonhando com meu breve retorno ao seu ventre.
Obrigada, mãe água.

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