sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mamãe também escreve!!!


Minha mãe é um pessoa incrível, além das palavras, sorte a minha.
Além disso ela também escreve.
Coloquei aqui um de seus textos, direcionado a amigas, mas válido para todos.




Juliana, Andrea e Lucia,

Às vezes penso que todos nós somos neste mundo, caminheiros. Sim, igual aqueles peregrinos que caminham para chegar a Santiago de Compostela.
Nossa meta é a mais longa, porém, temos somente o ponto de partida, não o de chegada.
Não sabemos quando e onde chegaremos ao final da jornada, apenas seguimos caminhando, dia a dia.
Nesta estrada vamos fazendo companheiros, que caminham conosco. Nossos pais, nossos avós, maridos, esposas, filhos, netos, irmãos, tios, primos, sobrinhos, compadres, afilhados, médicos, enfermeiras, professores, vizinhos, amigos, em uma grande romaria de pessoas que passam por nós, vão mais a frente, ao lado e outros logo atrás, uns se perdem na distância, e conforme caminhamos outros vão surgindo.
Às vezes a paisagem fica tão bonita e fazemos uma pausa, num verdadeiro oásis, é quando acontecem os encontros, casamentos, festas, natais, nascimentos, aniversários, viagens, alegrias compartilhadas.
Mas a caminhada tem que continuar, então, deixamos pra trás esses momentos e seguimos.
De vez em quando a paisagem muda, fica árida, triste e seca. O céu se carrega de cinza, vem a dor e o cansaço, o desânimo, as lágrimas.
Paramos, não queremos mais seguir.
Então aparecem ao nosso lado todos os nossos companheiros de andança, que com palavras carinhosas e mãos estendidas, nos animam a levantar daquela pedra, em que nos sentamos, derrotados e nos fazem andar novamente, seguir a caminhada, nos fazendo ver que logo ali, na frente, tudo vai mudar. O céu voltará a ser azul, o sol brilhará sobre as flores que encontraremos no caminho.
Ouviremos o cantar dos pássaros, com certeza, um bem te vi bem vindo.
Ouviremos as gargalhadas das crianças que nos rodeiam, veremos os sorrisos dos amigos e sentiremos novamente a felicidade em caminhar com toda essa gente que Deus colocou em nosso redor.


Então, vamos lá meninas, é logo ali...


Um abraço.

Nilvia Victorino Mendonça


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Bebê anjo


Então...
A gente pisa em porcelana chinesa, pra não magoar quem a gente gosta, e às vezes magoa sem saber.
Não dá pra tocar adiante, fingindo que nada aconteceu, falar sobre banalidades quando alguém próximo está com a vida revirada, foi atropelado pelo bonde do acaso, pelo trem da tragédia, e a gente achando que colocando um band-aid colorido e comprando um sorvete tudo vai passar.
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Nesta segunda nasceu um bebezinho que de imediato já voltou aos braços de Deus.
Chamado anjinho, por sua beleza prematura, chamado anjo pela enorme presença que teve na vida dos que o cercaram, tocando de forma definitiva sua família.
Famílias, originalmente duas, de pai e mãe, mas finalmente várias, de amigos, se uniram em prece por este bebê, e foram tocadas por sua vida breve.
Semanas de vida bastaram para que Enzo conhecesse o que muitas pessoas nem chegam a desfrutar. O amor.
Incondicional amor de pais, que o desejaram, que pediram por ele, que fizeram seus planos, que o amaram desde o início e o amarão por toda a vida.
Amor de familiares, que pediram por sua vida, por sua saúde, inconformados tiveram que assimilar que nem tudo é como a gente quer, mas que tudo acontece como tem que ser.
Enzo tocou casas e corações.
Fez com que cada um de nós olhasse pra dentro de si, buscando respostas, fez com que cada um olhasse para o lado buscando consolo. Fez com que buscássemos o novo, rasgássemos receitas prontas de respostas vazias, e acima de tudo aceitássemos que não há um porque em tudo, mas há uma para que em quase tudo.
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Obrigada Senhor por este bebê, agora e sempre anjo.
Força Juliana e Ricardo, porque foram escolhidos para serem pais, e este é um aprendizado pra toda a vida, amar incondicionalmente, aceitar incondicionalmente e suportar o que a vida nos apresentar.
Um beijinho Enzo, volte logo.

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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Minha amiga Polvo



Eu tenho uma amiga polvo.
Não é famosa como o animal que previu
Os resultados dos jogos da copa.
Mas minha amiga, ser cefalópode,
possui inúmeros braços, mas não tantos quantos seus talentos.
Braços capazes de cuidar de tudo e todos ao mesmo tempo.
Chamei-a de polvo pela primeira vez
Quando a vi dirigir, falar ao telefone e maquiar a filha que levava para uma apresentação de balé. Perdoado o telefonema, pois ensinava o caminho aos familiares desavisados, ou estes perderiam o espetáculo.
Alcança na bolsa grampos, enrola o coque em meio ao gel que aplica na cabeça da bailarina mirim. Retoca seu próprio batom, estacionando o carro, carregará bolsas, fantasia e filhos, acenará a uma conhecida e entregando os convites ao porteiro, abraça a filha já na porta dos camarins. Bela, estará em segundos refeita, ajeitando as madeixas, em pleno salto, chegará inteira ao teatro.
Mulher polvo deu conta de tudo mais uma vez.
Eu, orgulhosa, assisto admirada sua maestria de movimentos.
Descubro nesta definição da pessoa o porquê de sua flexibilidade, seu ajuste, sua habilidade de se moldar a vida.
Polvos não possuem esqueleto interno ou externo, o que lhes permite os ajustes ao meio. Além disso, é sabido de sua incrível habilidade de camuflagem, recurso de auto preservação.
Com visão binocular, minha amiga polvo enxerga mais do que o que se vê.
Vai além, vê a fundo o que se passa.
Quando ameaçada, usa o recurso de autotomia, como fazem as lagartixas, a fim de fugir de seus inimigos, larga braços para trás, escapando dos predadores de sua infindável amabilidade.
Refaz-se e em breve, pronta para novos abraços se faz forte.
Um abraço pra você querida amiga polvo.
Quisera eu fosse de oito braços, pra que você se sentisse hoje acalentada em seu momento de colo, mas caiba nesses que te amam e se juntam em prece pra que você se sinta bem, muito em breve.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Rios, mares, lagos e saliva


Passamos nossos primeiros meses de vida na água.
Envoltos na bolsa amniótica, estamos protegidos pelo líquido vital, que abundante nos permitiu crescer em temperatura agradável e constante, livres de abalos, de tudo o que nos pudesse ser desconfortável.
Rompe-se a bolsa, rompe-se um primeiro laço, abrimo-nos para o ar, sofrida respiração que nos faz chorar, no susto, sabemos agora sobreviver a seco.
Seco toque.
Em meio a ruídos claros, descobrimos um mundo novo de sensações, que por toda a vida serão fundamentais para fazer de nós quem somos.
A água agora nos mata a sede. Esta que representa setenta por cento de nosso corpo, similar ao nosso planeta, brota da terra, vem do céu, enche copos, escorre de nossos corpos, em suor e choro.
Choram os morros, lavam de lama casas e vilas, água rebelde não tem por onde escapar.
Choram mães, mulheres e homens por águas que rins não conseguem filtrar.
Água retida que engorda a moça.
Água brinquedo de menino em forma de poça.
Água benta, cura dos males.
Água salina, salobra, salgada dos mares.
Rios, lagos, riachos e saliva.
Água da boca.
A mesma que ajuda a digerir, fluidifica o que se come, enlaça o beijo, junta os amantes, separa em uma cusparada os inimigos.
Água do batismo, purificação do espírito.
Água de cheiro.
Fria, gelo. Quente, vapor. Água, simplesmente água.
Água que banha, lava o corpo, remove o cansaço, liberta.
Águas quentes, Caldas Novas, Goiás, que saudade deste lugar.
Encontrei em suas águas mais que o repouso. Encontrei a volta ao lugar de origem, ao calor e proteção da bolsa original.
Cuidada, me deixei lavar e levar, regada a amor, retorno refeita.
Respiro o ar, que agora já não me faz sofrer, sonhando com meu breve retorno ao seu ventre.
Obrigada, mãe água.