terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Sorriso da lua


Parada no semáforo, voltando pra casa após um dia de trabalho e uma noite de excursão em busca de itens faltantes para o lar.
Novo lar.
Mudar de casa foi para mim um desafio.
Nunca havia me mudado. Sai da casa dos meus pais com as malas de roupas e pertences, para iniciar minha vida de casada num apartamento bom o bastante para abrigar um casal cheio de vida, de amor e sonhos.
Treze anos depois já éramos quinze sob o mesmo teto, nós dois, mais um casal de filhos, duas cachorrinhas, dois jabotis, quatro Calopsitas, três Agapornis, sem contar nossos lindos peixes de nosso aquário marinho.
Mudamo-nos para uma nova casa.
Entre caixas e bagunça, carregamos um sorriso nos lábios, limpamos o novo espaço, desfizemo-nos de coisinhas sem sentido, aquilo que guardamos apenas por falta de tempo de decisão. Organizamos nossos cômodos, espalhando um pouco de nós a cada dia, a cada momento em cada pedaço deste novo lar.
Exaustos, percebemos que a batalha, apesar de boa, é árdua e parece não ter fim, mas o sorriso permaneceu ali, e no rosto dos amigos, que nos visitam tão felizes por nossa conquista, como nós mesmos.
Rotina ajustada, roupas nos cabides, uma nova cortina aqui ali, um vaso de planta, um tapete, vamos todos nos acomodando sob este novo teto, que é o antigo de outros, agora ganhando novas cores, usos, abrigando novos projetos porém o mesmo amor lá do início.
Eu no semáforo.
Olhando o vermelho que me impede de ir, busco o verde do meu pisca-pisca acenando que pretendo virar à esquerda, penúltima curva antes de chegar a casa. A luz amarelada da rua me indica um lugar pra olhar. No céu, a lua sorri pra mim.
Sorria para todos que a enxergassem, sorriso do gato da Alice no país das maravilhas.
Não sei se mingua ou cresce, não entendo de lua, mas ela me encheu. Lua cheia de graça, sorte minha que a vi.
Sorri de volta, e a saudei a distância ao fechar o portão, enquanto lá de dentro já pude ouvir o barulho da família – “Mamãe chegou!” em gritinhos e latidos.
- “Boa noite lua”.