segunda-feira, 18 de abril de 2011

Beijo, tchau!


No início do ano, na primeira reunião de pais do colégio dos meus filhos, a professora explicava a todos, as regras e normas do regimento escolar, que entre outras coisas proibia o uso do celular pelos alunos. Iniciou-se então um questionamento sobre a necessidade real de nossas crianças e adolescentes carregarem hoje um aparelho que não existia há quinze anos. A popularidade do celular estabelece atualmente uma nova tendência de comportamento social que estamos assumindo sem senso crítico. Nós pais, atendemos ao clamor de nossos pimpolhos, cedendo e adquirindo aparelhos que servirão para uma espécie de monitoramento a distância, não nos damos conta dos prejuízos que esta aquisição poderá proporcionar aos mesmos.


Certo é que o telefone é para a grande maioria uma espécie de artefato de segurança, podemos rapidamente falar com quem precisamos, sem necessitar do uso de um telefone público, que distante, nem sempre está apto ao uso, danificados propositalmente por vândalos sem educação social, mas isso é conversa pra outro dia. A partir desta facilidade abrimos um leque de efeitos colaterais desta tecnologia. O principal deles é a alimentação da ansiedade que consome nossas vidas, especialmente a dos jovens, que por si já são imediatos em suas urgências. Através do aparelho eles buscam agendar seus compromissos, contar fatos, obter respostas, não agüentam aguardar o tempo de digerir seus próprios sentimentos e através de torpedos querem a opinião de outros, como que um alívio ao que sua cabeça não suporta sozinho.


Não vou nem entrar em assuntos mais pesados como a prática de “sexting”, modalidade cada vez mais comum entre os jovens que trocam mensagens e fotos de cunho sensual ou erótico, colocando em risco sua imagem e trazendo prejuízos psicológicos incalculáveis ainda em longo prazo.

Um dos questionamentos que a professora colocou aos pais é o quanto fazemos uso deste equipamento para nos esquivar de nossas responsabilidades. O celular nos permite o atraso justificado, abonado, e desde que existem, podemos deixar os filhos aguardando na escola porque estamos no trânsito. Engarrafamentos sempre existiram e filhos sempre souberam aguardar pelos pais, sem que isso fosse o fim dos tempos. E os pais sempre tiveram compromissos e sabiam priorizá-los, sem usar de recursos de desculpas via SMS.


O jantar era o momento de contar as ocorrências do dia e ninguém precisava digitar, enviar, responder, ao final de cada frase. Chamava-se conversa, este hábito cada vez mais em desuso. Não se falava tantos “te amo” como hoje em dia, mas um bom colo dizia tudo, a pontualidade, a presença, falavam por si.

O diálogo a seguir deveria ser cheio de abreviações e terminologias que desconheço, nesta nova linguagem teclada e apressada, permitam-me o uso coloquial:

Vibra o celular, mensagem:

- mãe, acabou a aula, você vem me buscar?

- claro, to chegando.

- sim, só avisando, ainda nem desci, to guardando o material. Tem almoço em casa ou vamos passar no Mac?

- Não sei, depois a gent vêe (mãe teclando descuidada ao volante!)

- tá só pra saber se pode depois me levar pra comprar um tênis novo e tb pra lembrar que amanhã você tem que dar dinheiro para pagar o passeio da escola.

- ok, ok

- então tá! Quando chegar chama, to esperando na cantina.

- ok NÃO vai commeerr nadaa (mãe aflita teclando enquanto dirige! Olha a multa!)

- relaxa! Te amo. Beijo. Fui!

- também te amo!

Mãe chega, avisa. Filha entra no carro:

- oi

- oi

Silencio no veículo. Filha com os fones de ouvido ouve música do aparelho enquanto tecla com as amigas que acabou de deixar na escola. Antecipada, a conversa banal deixou de abrir portas nesta comunicação e isso está cada vez mais habitual.


O celular não é vilão, mas também não é amigo, tampouco terapeuta. Cabe a nós a observação do seu uso pelo benefício das relações.

Mais uma para as nossas cabeças de pais, sempre pensantes.

Se liga, me liga, beijo, fui! .


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Um comentário:

Espaco Home disse...

Oi Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....adoreio blog e tb visitei o site da Diniz Presentes. To muito feliz de estar aqui com você.
Irei divulgá-lo no meu twitter... @EspacoHome

Beijos Si