sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A baliza do vizinho


Pode reparar. Qualquer dia desses, a partir de hoje, se é que ainda não o tenha feito, preste atenção quando vir um motorista fazendo baliza para estacionar em uma vaga apertada, em meio a este trânsito louco.
Por mais que as pessoas reclamem da correria, sempre há tempo pra dar aquela paradinha e ver se o tal motorista será capaz ou não de se encaixar na vaga.
Se estiverem em par ou trio então, os espectadores do ato comentarão das habilidades ou falta delas, e lá está o pobre condutor suando em suas manobras, indo e vindo até finalmente entrar no espaço destinado, ou pior, desistir, dando vazão às risadinhas da platéia.

Sempre existiram as mexeriqueiras de plantão, as repórteres da gazeta da vizinhança, sempre dispostas a dar um furo e criar uma manchete nova.
A profissão de fofoqueiro se consagrou inclusive nas rádios e programas de televisão, onde os mesmos ganham dinheiro e fama futricando a vida dos famosos. Revistas especializadas fazem fortunas criticando vestimentas, sendo os olhos dos leitores em eventos e até mesmo num dia banal da vida de uma espécie sem privacidade, os artistas.
Mas sejamos realistas, só existe a categoria por existir o consumidor.

Há pouco mais de uma década surgiram também os reality shows, programas que pareciam ter vida curta, de acordo com especialistas, a cada ano ajustam suas formas e atraem mais e mais telespectadores sedentos pela observação do outro.
Nada de errado assistir a vida alheia, desde que não seja como o ditado prevê, que o macaco senta no rabo e ri do rabo do outro.

Assim se dá boa parte de nossa vivência em sociedade.
Vamos manobrando a vida, enfrentando nossas balizas, garagens, semáforos e ladeiras, sujeitos a avaliação de passantes.
Aqueles que caçoam, inadvertidamente, em breve terão oportunidade de realizar sua própria manobra, sujeitos também a dificuldades de percurso.
Fato é que só se aprende na repetição, na persistência, na observação, na correção do erro, seja para dirigir uma bicicleta, um carro ou a própria vida.
E voltando a vaga, faça baliza, raspe os pneus, pare de bico, suba na guia, afinal, estacionar é pra pouco tempo, o importante mesmo é se mover.

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