Há algum tempo se discute para onde caminha a sociedade e qual será o destino das novas gerações, jovens e crianças antenadas no que há de mais moderno, consumistas por osmose, imediatistas pelo próprio modo de vida, pelo acelerar de mentes e idéias, tendências e modas.
No passado, esperávamos pelo Natal, que diga-se de passagem, demorava bem uns 18 meses pra chegar, enquanto hoje parece acontecer duas vezes ao ano. Por quê? Crianças tradicionalmente recebiam presentes duas vezes ao ano, no aniversário e no Natal. O dia das crianças era uma data onde se ganhava a chamada “lembrancinha”, que podia ser um álbum de figurinhas, uma bola, ou mesmo um pijama novo, e não haveria caras tristes, porque afinal, tínhamos sido lembrados.
Hoje Natal é compromisso dos pais, que pagam em penosas dez parcelas pelo presente, em geral caríssimo, desejo dos filhos, adquirido durante os comerciais de TV.
São pistas mirabolantes que arremessam os carros a distância, antes pedíamos o carrinho e criávamos pistas em nossas salas, no quintal, nos corrimões de escadas. Os sons de frenagem eram feitos por nossas elaboradas cordas vocais e os faróis não acendiam de verdade, mas a noite era feita pra dormir, não pra brincar, então nem imaginávamos a utilidade de luzes em nossos possantes veículos de plástico.
Presentes atuais incluem bonecas que falam, fofocam e pedem atenção. Portadores de chips de inteligência artificial, esses bebês eletrônicos tem hora para comer, beber, dormir e acordar, reconhecem a voz de comando e apresentam recursos inimagináveis para outra época em que ao deitá-las um sopro sonoro saía de suas costas, esboçando um trêmulo “maaaa-maaa”, que poderia ser bem um mugido de bezerro ou miado de gato, tão incompreensível como deveria ser, para que ativássemos nossa imaginação e acreditássemos se tratar de um singelo “mamãe”. Nossas bonecas eram trocadas, embaladas para dormir no antigo sistema “charuto”, passando parte do tempo em seus bercinhos improvisados em caixas de papelão, e tomavam mamadeira que por vezes era uma pilha usada, que virava brinquedo, ou um frasco vazio de mostarda. A vida era simples.
Crianças ganhavam seus brinquedos que garantiriam o entretenimento dos próximos trinta dias de férias de Janeiro.
Ao desembrulharem seus pacotes, os pais dariam uma pequena ajuda para destrançar os arames que prendiam os brinquedos às suas caixas. Hoje nem ouse presentear uma criança sem ter à mão uma chave de fenda, tesoura e proteção para os olhos, tamanha a dificuldade em abrir as embalagens invioláveis, que possuem travas parafusadas para que as crianças não toquem nas pilhas, sob risco de envenenamento e morte. As pilhas, as mesmas que eram mamadeira, confesso, coloquei algumas na boca, e eram amargas, mas se eram letais, sua ação maléfica cruzou a barreira de 40 anos e não me matou.
As manhãs eram longas e as tardes eternas.
As brincadeiras tinham começo, meio e o inevitável fim era seguido de uma argumentação :
- Mas, já?
Infelizmente o cenário hoje são quartos abarrotados de brinquedos, com aparelhos de TV especialmente reservados para vídeo-games de última geração, apetrechos tecnológicos espalhados pela casa e quando você fala para sua criança ir brincar, a constante resposta é:
- Brincar de quê? Não tenho nada pra fazer!
2 comentários:
Si, vamos fazer um chá de bonecas na casa da Laura??? Adorei seu post de hoje, só vc mesmo para conseguir por em palavras o que atormenta a vida de hoje. Quanto a pilha que vc chupou, pode não ter matado, mas que ela te deixou pilhada de boas idéias deixou! Um mega beijão e saudades!
Si
Adorei Simone!!!! beijo, passe sempre por aqui!!!
Postar um comentário