Bem Vinda
Estou de volta. Estive ausente pra me fazer mais presente que nunca.
Às vezes a gente precisa de férias, mas não as férias de lazer, viagem, curtição, essa tão reconhecidamente necessária, estabelecida por lei. Refiro-me a férias de idéias, férias dos modelos prontos que adotamos, dos pensamentos pré-concebidos, das crenças vencidas.
É necessário o tempo de reformular, renovar, feito uma grande arrumação de armários, de onde tiramos peças que já não nos servem mais, que estão velhas, desgastadas, ou que temos ali há tempos sem uso, sem identidade com aquilo que somos.
Acredito que as idéias também se acumulam, pior ainda, mofam. Pensamentos ficam gastos, ultrapassados pedem descanso e a gente precisa arejar os conceitos.
Abri meus armários do consciente, removi dele o peso de muitas responsabilidades que assumi para mim, sem que me pertencessem, ainda que eu não as entregue a cada dono, tentei ao menos nomeá-las, etiquetá-las para não incorrer no risco de voltar a possuí-las.
Revirei minhas gavetas do inconsciente em busca de pensamentos que levam a sentimentos errados.
Medo, é um deles. Medo é peso extra, medo é âncora, empata a vida e atrapalha o fluxo de energias, das boas vibrações. Joguei fora alguns medos, sem nem me despedir.
Sei que nessas gavetas encontram-se culpas, quem não as tem? Estão ali incrustadas as falhas, as críticas, a auto-imagem, os complexos, as fragilidades, uma ou outra raiva, algumas frustrações e decepções, todas acumulando pó e abarrotando espaços.
Limpeza feita.
Descartadas as más intenções, as dúvidas e a falta do comprometimento, restam ali minúsculas partículas que podem ou não voltar a crescer, dependendo de minha intenção em mantê-las em cativeiro ou libertá-las de uma vez por todas.
No baú do passado permiti ficar apenas as boas lembranças, os momentos especiais, os risos, as conquistas, as amizades verdadeiras, a família, ordenadamente prontos para consulta, para re-energizar a rotina por vezes desgastante.
Lavei e quarei ao sol a roupa suja das situações mal resolvidas, deixando-as expostas em um lindo varal de nova postura.
Perfumei meus sonhos, um a um.
Afofei as minhas qualidades com o carinho de quem ajeita um bebê ao berço.
Ao final da faxina, banhei a alma em fé, minha fé inabalável.
Por fim, acalantei num longo e reconfortante abraço a pessoa que restou, penteei sua vaidade, vesti-a com suas virtudes e permiti que repousasse em lençóis limpos, enquanto velei seu descanso.